sexta-feira, 16 de maio de 2008

AS ORIGENS DO JU-JITSU (c)


As Origens do Ju-jitsu


O Japão durante séculos viveu isolado do mundo.
Alguns historiadores japoneses afirmam que o ju-jitsu já existia no ano 660 AC. O registo mais antigo que se conhece sobre combate a mãos nuas refere-se a um combate realizado 230 AC, desenrolado perante o Imperador Suinin, em que Nomi No Sukume vence Taima No Kuemaya, matando-o aos pontapés.Tanto quanto se sabe, nenhuma regra bem precisa presidia a esses combates onde se utilizavam indistintamente técnicas de sumo, ju-jitsu e karate.
No entanto, o ju-jitsu, enquanto prática bem organizada, só aparece entre os séculos XIV e XVI.As artes marciais japonesas desenvolveram-se ao longo de um período de 700 anos, quando a classe militar dominava a política.
No século XV a civilização chinesa penetrou na Coreia e modificou profundamente a cultura nipónica.No Japão dirigido pelo Imperador, era o Shogun (governador militar) quem mandava. O país estava dividido em distritos militares pertencentes aos vassalos do Shogun, os Daymios, que eram guerreiros temíveis. Muitas armas eram utilizadas consoante as regiões ou classes sociais. Por vezes era necessário continuar a lutar somente com as mãos.
A influência da cultura chinesa no combate a mãos nuas foi considerável. A china aplicava métodos de luta aperfeiçoados, baseados na filosofia de Tao, na medicina e na ciência em geral. Os sábios consideravam o universo e tudo o que nele se encontrava como a união harmoniosa de duas forças contrárias: o yin e o yang. Mas nada no universo é somente yin ou yang, antes todas as coisas são simultaneamente yin e yang. Assim, nada é absolutamente estável ou fixo e o universo nunca está em repouso, procurando constantemente o equilíbrio entre as forças positivas e negativas. Foi com base nesta filosofia que os chineses desenvolveram dois métodos de combate: um positivo (ataque), outro negativo (defesa). Este último consistia em esgotar o adversário pela não resistência, podendo depois ser rapidamente dominado por um ataque positivo.
Esta teoria não foi imediatamente compreendida pelos japoneses que, com medo de perderem a confiança na sua força, depressa assimilaram e desenvolveram os atemis e alguns ataques directos. Estes métodos prevaleceram até ao século XVII. Depois, pouco a pouco, a técnica melhorou.
Aquando da criação do bushido, o ju-jitsu tornou-se realmente a “prática da ligeireza”. Até então os samurais tinham desprezado este género de luta, considerando-a só digna dos kachis, os que andavam a pé. Mas, pouco a pouco, a cultura budista influenciou o clima espiritual desta elite de guerreiros. Estes, os bushis, submetidos às regras de disciplina severas juram fidelidade a um código de honra muito rigoroso: o bushido, a vida dum guerreiro. Este código influenciou durante muito tempo o espírito dos nobres samurais e ensinou aos japoneses, até aos nossos dias, as suas virtudes cavalheirescas.
É sobretudo durante época Edo, (1615-1868), que o ju-jitsu formou a sua verdadeira essência.Quando o Shogunato de Edo unificou o país no início do século XVII, a estabilidade subsequente debilitou o espírito militar das bujutsu.Assim os praticantes de artes marciais aperfeiçoaram a sua técnica através do treino de kata, tentando simultaneamente, atingir um estado de mente ideal com base nos ensinamentos Zen e de Confúcio. Por outras palavras as bujutsu evoluíram para budo, que incluíam uma filosofia de adesão a um estilo de vida.
Novas escolas concentraram-se no treino de formas de combate mas usando armadura e espadas de bambu (shinai). Os samurais, para substituírem os campos de batalha, acorreram aos dojos. Foi um tempo de desenvolvimento da técnica e do espírito. As bases definitivas do que viria a ser o judo, estavam já lançadas. Assim, a escola Tenjinshinyo-ryu, classificou as técnicas de katame-waza (controle), shime-waza (estrangulamento) e de atemi-waza (golpes) que serão as primeiras bases de trabalho de Jigoro Kano.
De igual forma, o princípio do nage-waza (projecções), princípio da suavidade, eram a base da escola Yoshin-ryu (escola do coração de salgueiro), criada por Shirohei Akiyama.
Por fim, também os fundamentos da escola Kito-ryu, estão presentes no judo actual, através do Koshiki-no-kata.
Quanto ao espírito das técnicas, já constava também nos arquivos de muitas escolas antigas de ju-jitsu, onde se procurava mais a elevação humana que o combate real.
A escola Jikinshin-ryu, e mais algumas outras, tinham já adoptado a palavra “ju-do” antes que esta palavra se tornasse popular. Nela encontramos “do” que significa “via” da perfeição, e “ju”, princípio da “suavidade”, tanto físico como mental, onde já estava presente o pensamento chinês de E-hui, que vê o mundo num equilíbrio permanente entre o yang (princípio positivo) e o yin (princípio negativo), ou entre o “go” (duro) e o “ju” (suave).
Contudo cada escola guardava ciosamente os seus segredos e transmissão dos conhecimentos fazia-se quase sempre por via oral.
Este estado coisas prolongou-se até ao fim do período feudal, 1867.
A partir da última metade do século XVIII, o desejo de mudanças políticas e a pressão exercida por nações estrangeiras geraram um ressurgimento das bujutsu. Logo, as artes marciais passaram a ser ensinadas em escolas estabelecidas em domínios feudais por todo o Japão.
Também se praticava o jiu-jitsu em escolas famosas, todas elas promovendo o ideal expresso na frase “Ju, yoku go wo seisu” (o fraco pode sobrepor-se ao forte). As budo e as bujutsu quase desapareceram no início da Era Meiji (1868-1912). Com a restauração do imperador Meiji e o estabelecimento da Era Meiji o Japão abriu-se a todas as influências estrangeiras e rejeitou as suas próprias tradições. O Imperador Mutsu-Hito (1867-1912) introduziu no Japão a civilização ocidental.
Em poucos anos o país adoptou as ciências, artes e técnicas da Europa com um entusiasmo extraordinário.Em consequência tudo o que datava do velho regime foi considerado com mau olhar e as artes marciais foram abandonadas com desprezo. 1868 foi um ano terrível para todas as artes marciais.
As artes do budo perderam todo o prestígio no seu próprio país, suplantadas pela vaga de modernismo, muitas escolas de ju-jitsu desapareceram e os samurais são interditos no Japão. Os últimos mestres sobreviviam com muita dificuldade e completamente abandonados. Os maiores mestres da época ensinavam a sua arte a certos corpos especiais do exército assim como da polícia.
Mas esta fúria de viver à ocidental originou um relaxamento dos costumes e a tradição cavalheiresca desapareceu, levando com ela as artes marciais.
Foi nestes tempos difíceis que cresceu Jigoro Kano. O seu papel não se confinou a realizar somente uma síntese coerente de velhas técnicas esquecidas de ju-jitsu; ele lançou definitivamente a ideia de que as artes marciais ultrapassavam largamente o plano físico e aquilo que ele, agora, chamava “judo” (o sufixo “do”, a “via”, substituindo definitivamente “jitsu”, a “técnica”) podia ser um meio fantástico de desenvolvimento moral para o indivíduo em primeiro lugar, e para o conjunto da sociedade em seguida.
É este elevado ideal que evitará que esta velha arte marcial caia no esquecimento.




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